ALENBIO

O blogue da cultura e das culturas. Da cultura de quem vive e sente o pulsar da Terra. E das culturas que vivificam a terra e o sonho de quem de afectos a semeia para depois, ternamente, lhe pedir o fruto.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Lugar aos poetas…

LIÇÃO

Oiço todos os dias,
de manhãzinha,
um bonito poema
cantado por um melro
madrugador.
Um poema de amor
singelo e desprendido,
que me deixa no ouvido
envergonhado
a lição virginal
do natural,
que é sempre o mesmo, e sempre variado.


Miguel Torga


TORTURA EM DÓ MAIOR

Ah! A tortura desta dor que dói
E ninguém vê doer!
Ah! A mágoa de pesquisar no horizonte
E nada ver!
Ah! O desejo louco de gritar ao mundo
O que nos faz sofrer!

Ah! A tortura de calar
A dor,
De cerrar os olhos,
De fechar a boca
E não gritar, não olhar, não dizer…

Ah! É pior que morrer!
Mariana Margarida

OFICINA DA TERRA CRUA

Experimentação e produção de materiais de construção ecológicos

Este artigo pretende sensibilizar-vos para o tema da construção ecológica, pedindo a vossa participação e adesão à rede de recolha e reciclagem de materiais naturais que o atelier SLA está actualmente a preparar.

Ecologia na arquitectura com materiais naturais

Em nome de uma construção mais sustentável, a arquitectura deve determinar opções correctas quanto à gestão dos principais recursos ambientais hoje em risco: a água, a energia, os materiais e o solo fértil. Ou seja, promover a construção ecológica. Um dos materiais de excelência para a construção ecológica é a terra crua, não só pelas suas qualidades no que diz respeito ao conforto ambiental em edifícios, mas também pelo custo energético primário nulo e custos de transformação mínimos. A construção em terra crua, quando comparada com o somatório de custos externos, sobretudo energéticos, provenientes dos métodos de construção baseados na utilização do cimento, do ferro e do tijolo cozido, torna-se muito mais económica e eco-eficiente.

Uma oficina da terra crua em construção

O atelier SLA começou as suas investigações sobre a construção em terra crua há alguns anos e tem vindo a fazer projectos e experiências na sequência dos princípios da arquitectura ecológica. Actualmente está a preparar a montagem de uma oficina experimental para testar a incorporação de diversos materiais na terra crua, visando a criação de materiais prontos a utilizar em “construção seca” e que cumpram exigências de desempenho térmico mais elevadas.
A cortiça, a palha, os desperdícios do tijolo ou outras fibras ou resíduos vegetais como o cânhamo, são materiais cujo comportamento queremos explorar em conjugação com a terra crua.
Seguir a evolução da construção contemporânea em terra e experimentar para inovar são os principais objectivos da oficina da terra crua. A primeira fase de actividade consistirá na produção de protótipos de materiais à base de terra crua com incorporação de outros materiais que possam contribuir para a diversificação e aperfeiçoamento destes novos produtos para a construção. É para esta fase que se pede a participação de todos, sobretudo dos produtores de agricultura biológica que produzam desperdícios para os quais não tenham um destino final e que estejam interessados em aderir a este projecto.
A rede de recolha e reciclagem está a ser constituída na oficina do atelier SLA, estando prevista a distribuição de embalagens para a colocação dos desperdícios imperecíveis, que serão recolhidos com a frequência necessária. Todos os materiais naturais imperecíveis (e provenientes de cultivo biológico) podem ser úteis, pois só a experiência e a avaliação dos resultados obtidos para cada material poderão demonstrar quais os mais eficazes e para que fins.

Joana Mourão, Margarida Pereira, Micaela Sobral, Vera Schmidberger
SLA – Rua Prof. Veiga Ferreira 4-A 1600-800 Lisboa
Tel./Fax 217575945 e-mail:
sla@sapo.pt

ATENÇÃO: os diversos materiais sugeridos neste artigo – rolhas de cortiça (sem plásticos), conchas de moluscos, resíduos da debulha de arroz, cascas de cereais, cascas de frutos secos, desperdícios do tijolo e da madeira, fibras vegetais várias, etc. podem ser entregues na Biocoop ou na Oficina da Terra Crua em Telheiras. Obrigado pela colaboração!

In Figo Maduro Boletim Informativo da Biocoop (artigo adaptado)

terça-feira, setembro 13, 2005

A imagem de Deus

Os habitantes de uma aldeia nunca tinham visto camelos. Um deles, que tinha plantado belas melancias, viu um dia aparecer um animal extraordinário, muito alto, de cor bege, que entrou na sua horta e comeu as melancias.
- Que animal é este? – perguntou o homem. - Só vejo uma explicação possível: não é um animal, é o próprio Deus!
Então ajoelhou-se no meio dos canteiros devastados e disse, na direcção do camelo que se afastava, saciado:
- Ó Deus bege do grande pescoço flexível, deste-me estas melancias e agora tiraste-mas. Que posso eu fazer? Bendito seja o teu nome!

In Tertúlia de Mentirosos
Contos Filosóficos do Mundo Inteiro



Naturalmente que não foi Deus quem nos deu esta melancia, mas sim a terra da nossa horta, depois de tratada com muito respeito e dedicação aliados a práticas agrícolas ecologicamente correctas. O resultado está à vista: rubra, fresca e doce. Uma tentação para qualquer camelo ( ou para qualquer deus?) …

Divagando devagar

Sobre as mãos diz o poeta que tudo fazem e desfazem.
Sobre as mãos digo eu, que não sou poeta, que têm algo de asa e de flor: quando acariciam a terra e a fazem frutificar, quando dançam com as palavras criando-lhes sentidos, quando se perdem na música e a beleza acontece.
Além dos olhos, onde mergulho até à alma, é nas mãos que me prendo: frágeis… robustas… delicadas… exuberantes… firmes… suaves… Sinto-as deslizar nos sentidos – instrumentos de Eros despertando prazeres…

Vivam, pois, as MÃOS de quem amo!

As mãos são tuas.
O desejo é meu:
de as agarrar quando mergulham,
em voo picado,
na atenção com que te escuto;
quando dançam,
tão asas no vento,
oferecidas aos meus olhos.
E se o gesto pára
são pássaro em perigo
à mercê do salto felino
deste gato que me enche o peito.

M.M.Cruz

segunda-feira, setembro 05, 2005

Maravilhas da Natureza (I)



Um par de tomates porcos! Posted by Picasa

Divagando devagar

(como se deve fazer no Alentejo…)

Acordei pensando em algo que, por vezes, se diz: se uma borboleta bate as asas aqui, há uma tempestade no outro lado do mundo. O mesmo é dizer que qualquer acontecimento contém as sementes das suas consequências.

Colocada esta premissa, tomemos consciência de que os efeitos da seca aliados aos dos incêndios provocam a diminuição da mancha vegetal, o que reduz a probabilidade de atrair a chuva e agrava ainda mais a situação de seca ( ou deverei dizer: prolonga a época da seca ?).

A Natureza criou o seu equilíbrio, tudo o que existe, desde que na conta certa, tem a sua utilidade. Mas, confesso que ainda não percebi muito bem a serventia das borboletas que tomaram conta do governo deste país e esvoaçam, tontas, provocando tempestades a torto e a direito.

Talvez seja altura de abrirmos os olhos para o que salta à vista e de nos tornarmos um pouco irredutíveis. Antes que o céu nos caia, definitivamente, em cima das cabeças.

(Se alguém pensou que este texto se destinava a dar “porrada” no governo, enganou-se. A ideia era usar e abusar do ÓBVIO e do OBVIAMENTE como é moda agora, mas parece que me esqueci. Decididamente não vou atrás de modas… Acho que prefiro OBVIAR !)


P.S. : Quem não perceber que use o Dicionário da Língua Portuguesa.

M. M. Cruz

Maravilhas da Natureza (II)



Adão e Eva... os tomates! Posted by Picasa

Confesso que quando penso em muito do que se passa neste país só me apetece ir embora…

(Esta VIAGEM é dedicada ao Cantar ao Sol)


Vou de noite,
caravana de mim
rumando ao Sul,
p`los caminhos que a lua me mostrar.
Na bagagem levo aljôfar,
esta mala que não fiz
e uma algibeira de nada.

(Talvez cruze a tua rota…)

Vou à procura do Azul.
E da moura que sorria na janela.


M. M. Cruz

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