ALENBIO

O blogue da cultura e das culturas. Da cultura de quem vive e sente o pulsar da Terra. E das culturas que vivificam a terra e o sonho de quem de afectos a semeia para depois, ternamente, lhe pedir o fruto.

segunda-feira, junho 26, 2006

EM TEMPO DE SANTOS POPULARES...

...FALA SANTO ANTÓNIO:

"E assim como o teu coração não é grande nem longa a sua forma, mas um pouco arredondado, não sejas grande pela soberba, longo pela cobiça, mas guarda a linha redonda e perfeita da vida. De facto, o que é redondo não sofre diminuição."

Santo António
Sermão do XIII domingo depois de Pentecostes

quarta-feira, junho 21, 2006

O DIA MAIS LONGO DO ANO



Segundo a tradição celta, Litha, o solstício de Verão, marca o apogeu do poder do Deus Sol e, ao mesmo tempo, o início do declínio da sua força. As festas deste dia dirigem a atenção do indivíduo para a Natureza que o rodeia em todo o seu esplendor: o sol, as flores e a terra estão em pleno desabrochar criando uma atmosfera erótica. Em algumas tradições, os grupos wiccans praticam nesta altura a cópula ritualizada.
O culto do deus grego Dionísio, ou do romano Baco, têm celebrações semelhantes. Na China é o dia do festival de Li, a deusa da luz.
Apesar de não ser a data exacta do solstício, convencionou-se a sua celebração no dia 24 de Junho; mais tarde o dia de S.João, que os pagãos identificam com Cernunos, o deus cornudo, senhor dos bosques e dos sítios ermos.
As fogueiras de S.João têm o propósito de afastar os maus espíritos, e as pessoas saltam-nas para que isso lhes dê sorte. Dantes o povo, em procissão, percorria as ruas iluminadas com lanternas, segurando varas enfeitadas com grinaldas e candeias no topo, para visitar as várias fogueiras. Estas procissões eram acompanhadas de dançarinos e gente mascarada. Parece estar aqui a origem das nossas marchas populares.
A tradição manda decorar a casa com ramos: bétula, funcho, erva de S.João e lírios brancos.
Cinco plantas têm propriedades mágicas nesta noite: arruda, rosas, erva de S.João, verbena e trevo.
Os ícones principais para este dia são a esfera, símbolo do Deus Sol na sua plenitude, e o caldeirão, símbolo da generosidade da Deusa.
As cores de Litha são o verde, o amarelo e o dourado.
E as divindades que devem presidir a este festival são os deuses de maior força e poder, as deusas grávidas e as deusas da luxúria...
Resumido e adaptado de Wicca, a Velha Religião do Ocidente, de Garcia Baptista

sábado, junho 10, 2006

TERNO BESTIÁRIO *

O MELRO

"A força das vozes dos melros só é equiparável à sua pureza. É um jorro límpido, de uma flexibilidade e de uma transparência que enlevam. Que benção é voltar a ver a luz matinal ouvindo o canto dos melros na sebe! Pelas lâminas das persianas o jovem sol invade o quarto com os primeiros raios. O dorminhoco apercebe-se dessa luz, como se ela fosse uma lâmina de água que viesse lamber um degrau na orla de um cais, e já se ergue a barca. É um sono suspenso, balançado, em que se despertam folhagens, em que se espraiam traços sonoros mais alegres do que toda a música humana. E, de repente, a consciência regressa: os melros cantam."

Maurice Genevoix in Terno Bestiário


* Título de um dos Bestiários escritos por Maurice Genevoix, autor cuja " obra vasta e diversificada, toda dedicada à natureza, ao rio, à floresta, à vida universal, reconduz os homens de hoje às realidades calorosas que estavam prestes a esquecer."

domingo, junho 04, 2006

LUGAR AOS POETAS II

É Jorge Serafim quem fala.
Porque merece ser ouvido...



Fui cair no princípio do mar
com todo o ar da terra e toda a terra do ar
tranquilo a entardecer-me quando a espuma vem adormecendo
nos meus pés a cantilena da água, suave, macia, aveludada,
enquanto os olhos procuram ajeitar o tempo no horizonte
a vida na cabeça
a cabeça no corpo
o corpo na alma
a alma no espaço
o espaço, todo aquele que puder
ter
ver
absorver
como que fazer do mar um telhado e de seu princípio, beiral
aninhando os pensamentos na fina areia
no fino vento
na fina água
como o fazem as andorinhas, sempre com a matéria certa
não vá a alma ficar deserta
tremam as antenas
que um pensamento tem asas pretas e peito branco
e um bico para agitar neurónios
e duas patas que só aterram
depois do coração voar


que à beira de qualquer mar
está um princípio de Primavera
encalhado
num beiral de
um qualquer telhado



Jorge Serafim

quinta-feira, junho 01, 2006

LUGAR AOS POETAS

A quem pedi que falassem por mim...



Falta-me tempo
nas curtas tardes
para os gestos, as invocações,
o aroma das especiarias,
o silêncio dos jardins,
a memória, os manuscritos


falta-me tempo para as palavras


Ulisses Rolim



É dos lugares possíveis
a vontade de estar só
e plantar laranjais e aloendros
e iniciar viagens sem regresso
acreditando nos corpos e na claridade
na timidez de um pássaro


Onde estarás ao alvorecer?
Sob as acácias ou na solidão
de um imperceptível beijo


Ulisses Rolim




Dei-te a solidão do dia inteiro.
Na praia deserta, brincando com a areia,
No silêncio que apenas quebrava a maré cheia
A gritar o seu eterno insulto,
Longamente esperei que o teu vulto
Rompesse o nevoeiro.


Sophia de Mello Breyner Andresen

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