segunda-feira, outubro 31, 2005
quinta-feira, outubro 27, 2005
Lugar aos poetas
Os Trabalhos do Dia
Vou ver
o
trabalho
que as tuas
mãos
hoje fizeram:
Mudaste
as sardinheiras
Puseste
estrume
de
cavalo
nos hibiscos

amarelos
e vermelhos
e tiraste
as
hortênsias
dos vasos
de
plástico.
Depois
deste banho
à
cadela
com
a mangueira
e, por fim,
subiste
à figueira
onde comeste
quatro
figos gordos
enquanto eu
fiquei
por aqui
a
olhar-te
e
a desejar-te
tão
nítida
perto
do limoeiro
lunar.
Carlos Mota de Oliveira
A Violação da Terra
"O homem, sobre o assento de aço, já não parecia um homem. Mãos cobertas, óculos de protecção, máscara de borracha sobre o nariz e a boca, fazia já parte da máquina, um robot aos comandos do tractor.
O estampido dos cilindros ecoava pelos campos, inseparável do ar e da terra que com eles vibravam em uníssono. (...)
O homem talvez admirasse o tractor; aquelas chapas metálicas exteriores, a potência impetuosa, o rugido do motor. Mas o tractor não lhe pertencia.
Atrás da máquina vêm os discos que cortam o solo em fatias. Já não lavram, fazem uma cirurgia, a primeira fila de discos empurra a terra cortada para a direita, para que a segunda a corte de novo e empurre para a esquerda.
São lâminas brilhantes, polidas pela própria terra que vão cortando. Atrás dos discos vem a grade, desfazendo os torrões mais pequenos, penteando a terra com dentes de aço, tornando-a mais branda. E mais atrás vêm então os tubos de inseminação, doze pénis em aço, recurvados numa erecção metalúrgica, em orgasmos mecânicos, violando a terra metodicamente, sem desejo.
O tractorista sentado no seu assento metálico, orgulhoso das linhas rectas que não era ele a traçar, orgulhoso do tractor que não lhe pertencia, orgulhoso da potência que não podia controlar. E quando aquela seara cresceu e depois foi ceifada, ninguém tinha chegado a pegar num torrão húmido com as mãos para o desfazer e deixar escorregar a terra por entre os dedos.
Nenhuma mão humana havia tocado na semente, ninguém tinha chegado a amar a terra.
Os homens comiam aquilo que não tinham sido eles a fazer crescer.
Nenhuma ligação entre eles e o pão que levavam à boca.
A terra dava à luz sob o jugo do aço, e sob o jugo do aço ia morrendo aos poucos."
John Steinbeck
John Steinbeck
As Vinhas da Ira
sexta-feira, outubro 21, 2005
Divagando devagar ...
Sobre um livro que penteei e despenteei amorosamente (como diz o
belíssimo poema de Carlos Mota de Oliveira musicado e cantado, com
qualidade a condizer, por Janita Salomé).
Acabei de ler um livro. Muito bom.
Daqueles que se lêem compulsivamente, com água na boca e o coração
aos saltos, espreitando as páginas que faltam, divididos entre a ânsia
de saber o desfecho e a pena de chegar ao fim. Porque não queremos
acabá-lo, mas não conseguimos parar.
Como quando se faz amor e se retarda o orgasmo para prolongar o prazer...
O autor, qual mestre cozinheiro, mistura, de forma magistral,
ingredientes românticos e realistas, temperando-os com sabores de
romance gótico e de história de mistério. O resultado é uma iguaria
literária que nos delicia os sentidos e nos deixa a chorar por mais.
É um livro sobre um livro e as vidas que por ele se ligam; mas é
também um livro sobre uma cidade e uma época atormentada da sua
História (da História de todos nós, afinal); sobre rosas que
florescem, de repente, em campos de ervas daninhas. Porque o ser
humano é capaz do melhor e do pior, assim o provoque a Vida.
É um livro sobre gente que se esconde, vidas vigiadas, lugares
secretos. Sobre oportunismo e cobardia. Sobre inconformismo e revolta.
Afinal, sobre coisas que não mudam e que o Tempo arrasta consigo em
todas as épocas.
Para quem estiver interessado em provar este pitéu aqui fica a informação:
A Sombra do Vento
Carlos Ruiz Záfon
Dom Quixote
Colecção Ficção Universal
Bom Proveito!!!
domingo, outubro 16, 2005
Para TI, porque hoje é lua cheia
DOMINGO
Acordei (?)
Vesti o dia,
morno e lento,
como uma pele
inevitável.
Guardei o teu sabor
de madrugada
e fiz-me à luz
com os olhos
de quem não quer passar.
Imparáveis
as horas mostram-me a noite.
Aceito-as.
E espero.
Com a certeza de quem sabe a lua cheia.
M.M.Cruz
sexta-feira, outubro 14, 2005
ALIMENTOS BIOLÓGICOS: cinco razões para os levar para casa
Melhoria da saúde
A agricultura biológica contribui para manter a saúde dos agricultores e dos consumidores por não utilizar pesticidas nem sementes transgénicas e, respeitando os ritmos naturais, produzir alimentos equilibrados em nutrientes. Além disso, o verdadeiro sabor dos alimentos é recuperado e a sua conservação é melhor do que a dos produtos convencionais.
Os cereais integrais não biológicos têm resíduos de pesticidas nas cascas, o que os torna mais perigosos do que os refinados.
Protecção da agricultura
A agricultura biológica contribui para manter o património genético, pois para deixar de usar pesticidas é imprescindível que as plantas cultivadas sejam autóctones.
Por outro lado o composto, como base da fertilização, faz do solo um meio adequado para albergar vida e alimentar os microorganismos que nele habitam, os quais vão pôr à disposição da planta os elementos de que necessita para a sua correcta alimentação. A fertilização química mata a vida microbiana do solo.
Protecção do meio ambiente
A agricultura biológica fertiliza a terra, travando a desertificação do solo; favorece a retenção da água e não contamina os aquíferos; fomenta a biodiversidade. Contribui, pois, de forma eficaz, para a descontaminação do ar, da água, do solo, da flora e da fauna, envenenados pela agricultura e a pecuária intensivas.
Ao consumir produtos biológicos está a contribuir para o aumento do seu cultivo e, portanto, a evitar a contaminação da terra, das águas e do ar.
Criação de uma sociedade mais justa
A agricultura biológica preserva a vida rural e, ao mesmo tempo, a cultura e a tradição das gentes do campo. Permite a produção, o comércio e o consumo locais, como bases da economia das regiões. Impulsiona a criação de postos de trabalho já que requer a presença dos agricultores. Devolve ao camponês a gestão das suas terras, libertando-o da dependência das grandes empresas e multinacionais de sementes e fitossanitários.
Consumir alimentos biológicos é uma escolha responsável que pode conseguir mudanças na actividade de empresas e administrações, orientando-as para métodos e produtos mais respeitadores do meio ambiente e da saúde de todos.
A agricultura biológica complementa-se com o desenvolvimento de uma nova indústria alimentar, que produz alimentos verdadeiramente sãos e nutritivos, sem aditivos que só servem para uma armazenagem prolongada, para ocultar a falta de sabor e má textura dos produtos obtidos com as técnicas da agro-química, e para comercializar estes produtos em lugares longínquos, usando transportes dispendiosos e fomentando o desperdício e a extravagância.
Permitir uma verdadeira economia
Os produtos biológicos não ficam mais caros para a economia familiar, pois protegem a saúde da família e cobrem melhor as necessidades de nutrientes com menor quantidade do que os outros.
Segundo dados oficiais, 60% das doenças degenerativas estão relacionadas com a alimentação. O consumo generalizado de alimentos biológicos implicaria uma grande poupança, tanto para as famílias, como para os governos.
Com o consumo de produtos biológicos contribui-se para a poupança de energia e para a reciclagem. A agricultura industrial ou agro-química, considerando os custos de produção e de descontaminação posterior que implica, é muito mais cara para os contribuintes e para os governos. Ao passo que a agricultura biológica é uma forma de produção que não só leva em consideração os aspectos relacionados com a saúde e o meio ambiente, como regenera e enriquece o património do agricultor e, portanto, da Natureza.
In ESPACIO NATURAL nº 34
(artigo traduzido e adaptado)