ALENBIO

O blogue da cultura e das culturas. Da cultura de quem vive e sente o pulsar da Terra. E das culturas que vivificam a terra e o sonho de quem de afectos a semeia para depois, ternamente, lhe pedir o fruto.

sexta-feira, abril 21, 2006

POESIA MÍSTICA

Rubaiyat I


Debaixo de um arbusto, um pão e uma garrafa
de vinho e os meus poemas: tudo o que preciso.
E tu, que ao meu lado cantas no deserto,
e o deserto se torna, então, no paraíso.




Rubaiyat II


Entrado no universo, sem saber porquê,
nem de onde, tal qual a água, queira ou não, a fluir;
e fora dele, como o vento em descampado
soprando, queira ou não, sem saber para onde ir.




Rubaiyat III


No céu, a mão esquerda da alvorada; eu sonho.
Na taberna, uma voz escuto na algazarra
- Despertai, meus pequenos, e enchei bem o copo
antes que seque o vinho da vida em sua jarra.


Ah! Enche o copo! De que serve repetir
que o tempo sob os nossos pés já vai fugindo?
O amanhã não nasceu e o ontem já morreu,
porque me hei-de importar, se o dia de hoje é lindo?


E ao côncavo invertido que se chama o céu,
sob o qual rastejaram o vivo e o que morreu,
não ergas tuas mãos, pedinte. Ele é impotente
no seu girar, tal qual o somos tu ou eu.


O dedo que se move escreve, e, tendo escrito,
se vai. E toda a argúcia e piedade, entretanto,
não o trarão de volta a mudar meia linha,
nem as palavras podes apagar com o pranto.


E se o vinho que bebes, o lábio que oprimes
findam nesse nada que a tudo dá sumiço,
imagina, então, que és; não podes ser senão
o que hás-de ser - nada! Não serás menos que isso.


Façamos o que é do que inda há por fazer
antes que também nós ao pó vamos enfim.
O pó vai para o pó, sob o pó vai jazer
sem vinho, sem canções e sem cantor... sem fim.


É tudo um tabuleiro de noites e dias;
os homens são peças, e o fado temerário
com elas joga, e move, e toma, e dá o mate,
e uma a uma as recolhe, e vai guardar no armário.


Omar Khayyam

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